The Project Gutenberg EBook of Memória sobre a plantação dos algodões, by José de Sá Bettencourt This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. 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No final deste livro encontrará a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Jan. 2010) PLANTAÇÃO DOS ALGODÕES J. S. Bettencourt MEMORIA SOBRE A PLANTAÇÃO DOS ALGODÕES. MEMORIA SOBRE A PLANTAÇÃO DOS ALGODÕES, E sua exportação; sobre a decadencia da Lavoura de mandiocas, no Termo da Villa de Camamú, Comarca dos Ilhéos, Governo da Bahia, APPRESENTADA, E OFFERECIDA A SUA ALTEZA REAL O PRINCIPE DO BRAZIL NOSSO SENHOR, POR JOSÉ DE SÁ BETENCOURT, _Bacharel Formado pela Universidade de Coimbra: e actualmente encarregado em exames de Historia Natural na Capitania da Bahia; &c._ ANNO. M. DCC. XCVIII. Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira. SENHOR. _Eu tenho a honra de apresentar a V. A. R. o breve resumo das minhas poucas observações sobre a plantação dos Algodões, sua exportação; e tambem das causas da decadencia da lavoura de mandiocas no termo da Villa de Camamú, que olhadas por V. A. R., Pai commum, será a dita lavoura dos Algodões hum dos maiores ramos do nosso Commercio para felicidade da Nação, e riqueza da Capitania da Bahia, onde a Natureza tem depositado os Thesouros, de que só he capaz a sua liberalidade._ _Espero que V. A. R. haja de acolher com a grandeza do seu Real Coração os bons desejos, que tenho, do serviço de V. A. R., da felicidade do Paiz, e augmento da Nação, no breve discurso, que tenho a honra de apresentar a V. A. R. de quem sou com o maior respeito, e veneração_ Vassalo obediente _José de Sá Betencourt_. A Terra, mais rica na sua superficie, que nas suas entranhas, serve de theatro á Sábia Natureza, que a renova todos os dias, com as suas producções; fazendo succeder por meio das differentes, e multiplicadas sementes outras tantas especies de vegetaes, que cobrem a superficie do nosso Globo, e fazem a felicidade dos seus habitantes. Ella reparte com grande sabedoria os seus dons, e faz que se propaguem sobre os differentes terrenos, que lhes são proprios, já pela qualidade do seu humus, já pela natureza do clima, sem que a destra mão do Agricultor os possa fazer propagar á sua vontade: assim vemos, que as plantas da Europa com difficuldade se propagão em beiramar do Brazil; e algumas que á força de trabalho crescem, e propagão, a sua producção he debil, e sem que os Lavradores possão tirar as vantagens, que se tirão na Europa, como vemos, e se observa na vinha, que mal satisfaz a curiosidade do cultivador, sem que a producção corresponda ao trabalho. Outras, que vegetão, e não propagão, como a oliveira, &c. outras de tal sorte amantes do seu paiz, que não vegetão, nem propagão. O mesmo, que observamos nas plantas da Europa, cultivadas no Brazil, se observa nas plantas deste levadas para a Europa, que só vivem em cazas de vidraças, subministrando-se-lhes com estufas o calor, que lhes he necessario para a sua vegetação. O Agricultor póde modificar o terreno, fazendo-o mais ou menos gordo, mais ou menos poroso, appropriando-o á natureza da sua lavoura, mas não o clima em grande, que influe na maior parte da vegetação. Eu não me canço em referir as differentes observações dos Filosofos, para provar, que o clima influe mais na vegetação, do que a terra, por ser esta materia huma, e muitas vezes discutida, e provada; porque sendo a terra a mesma em toda a parte, e susceptivel de receber as modificações do Agricultor, vemos que ha grande difficuldade em se fazer propagar as plantas de differentes climas transplantadas; e ainda que saibamos, confórme os verdadeiros princípios de Agricultura, e de Chymica, que a terra he o meio, no qual se faz a germinação, e que não serve só de laboratorio, confórme o Abbade Tessier aos succos, que lhes são destinados; mas que entra tambem em grande parte na sua composição, seja ella attenuada do modo, que for, o que ainda existe nos occultos segredos da Natureza, que o homem não póde perceber, o que se conhece pelo residuo dos vegetaes queimados; com tudo outras muitas experiencias próvão, que o ar he muito necessario para a perfeita vegetação, e que entra em grande parte na sua composição. A necessidade, que os vegetaes tem de agua para a sua vegetação, he por todos bem conhecida, não sendo demasiada, assim como o calor, que he o princípio vivificante, o que tudo coopera, para que as plantas cresção, e produzão, confórme a qualidade do clima; que lhes he analogo. Eu me não demoro em relatar theorias sobre o princípio da vegetação; porque isto sería exceder o plano, que me proponho; só me basta provar, que o clima differente influe nesta, ou naquella lavoura, para que o Agricultor perceba as utilidades com vantagem. A mesma differença, que observamos nos Paizes da Europa em relação aos de beira mar do Brazil, se observa nestes a respeito dos do Sertão, ou terra dentro, onde são as estações mais regulares, e as chuvas vem em tempos determinados, e constantes, o que faz, com que a lavoura seja igual, e sempre certo o tempo da plantação. O terreno da Villa do Camamú, que fica entre 14, e 15 gr., desviado da Bahia ao Sul 24 legoas, he o Paiz mais irregular nas suas estações, que tenho visto, porque, quer seja de verão, quer de inverno, sempre as chuvas são continuadas; e o calor no verão, confórme o termometro de Fahrenheit, não chega a mais de 80 gr. e meio[1], o que faz, com que as plantações se conformem á irregularidade do clima, e se não possa nelle cultivar com vantagem, senão Mandiocas, Cafés, Arroz, e Cacau, e não o Algodão, que he o principal objecto; porque, ainda que cresça nas boas terras de beira mar, a sua cultura se não póde fazer com proveito, visto que o terreno lhe não he tão proprio, e a irregularidade do clima rouba ao Lavrador as suas esperanças, vindo as chuvas no tempo da colheita, a destruir, e apodrecer o Algodão, ainda nos seus capulhos. Esta irregularidade se observa nos Paizes, que ficão ao Sul da Bahia entre 13, e 20 gráos, onde se não conhece verão, nem inverno[2], senão pelo mais, ou menos calor, confórme os ventos, que reinão nestas duas estações; e nunca o frio excede de 60 até 55 gr. do mesmo termometro, tempo, em que reina o vento Sul, que sempre he acompanhado de chuvas. A 14 legoas da Villa de Camamú, fazendo caminho de Oest-Sudueste até encontrar as margens do Rio das Contas, onde confinão as matas grossas, com as Catingas altas[3], e vão confinar a 12 legoas com as Catingas baixas[4], já a regularidade do clima se confórma com a fertilidade do terreno, muito proprio para todas as plantações, particularmente, para a lavoura do Algodão, onde se acha silvestre no meio das ditas Catingas. Este terreno, que fica a 26 legoas de beira mar separado pela mata, a qual vem a confinar, com as que os naturaes do Paiz chamão Catingas grossas, he sem dúvida o mais proprio para a dita lavoura, porque o Algodão domestico, huma vez plantado, se conserva por muitos annos, ainda sem nenhum beneficio, como o encontrei na Fazenda do Rio das Contas, onde tinha sido plantado havia dezoito annos, e se conservava no meio das Capoeiras[5], com tanto vigor, como se fosse novamente plantado. Todo o Sertão da borda do Rio das Contas tem a mesma propriedade: toda a mata, que fica entre o dito Rio das Contas da parte do Sul, e o Rio do Gragongi, confórme a fé dos bandeiristas[6], possue as mesmas qualidades. Este vasto terreno, que principia a 13 legoas da beiramar, he cortado de Sueste, a Noroeste pelo Rio das Contas, susceptivel de navegação de grandes canoas, e outros muitos rios, que vem cruzar com elle, tanto da parte do Norte, como do Sul, sem a mesma facilidade de navegação, os da parte do Norte são o Ribeirão de Area; ou Montanha, Genipapo, Manageni, Rio das Pedras, Rio Preto. Todo o Sertão da Conquista desde a fazenda do Rio das Contas, fazendo caminho de Sul, que será de 40 legoas, tem a mesma propriedade, não só pela qualidade do terreno, como tambem pela regularidade do clima, que he tanto mais regular, quanto mais se affasta da beiramar. A margem do Rio Gavião, que vem fazer barra com o Rio das Contas, seguindo o rio o caminho de Oeste, he igualmente propria para a sobredita lavoura. Os proprietarios das fazendas, que conhecem as vantagens desta lavoura, a não fazem pela razão, que logo exporei, quando fallar da sua exportação. A planta, que produz o Algodão, entra na Classe _Monadelphia_ Ordem _Polyandria_, genero _Gossypium._ Lineu, se servio, para distinguir as especies, das differenças das folhas, e das glandulas, que se achão em algumas especies, e não em outras, cujo conhecimento só fica pertencendo aos Filosofos, e não ao do vulgo; razão porque me servi da differença das sementes, e do pêlo, que as cobre, confórme as suas cores, por ser hum caracter constante no Paiz, e conhecido de todos, que fazem uso desta cultura, ainda que em pequeno; e da união destas mesmas sementes, ao que chamão caroço inteiro, ou dividido. Para se cultivar o Algodão basta derribar as Catingas altas, ou Catingas baixas, logo que o tempo secco convida para este trabalho, que he do mez de Junho por diante, e se deixão seccar até o mez de Setembro. Os Soes, que neste tempo são ardentissimos, seccão as madeiras de tal sorte, que quando as chuvas avisão aos habitantes da sua chegada pelos grandes trovões, que costumão haver muitos dias antes, lhes lanção fogo, que reduz tudo a cinzas, deixando a superficie da terra limpa, para se fazer a plantação, sem maior incómmodo, ficando a terra estrumada, e fertil pelo alkali vegetal. A lavoura se faz com enxadas, abrindo covas de oito em oito pés, onde se lanção as sementes[7], e se cobrem com pouca terra; e porque o terreno ficaria muito ocioso só com esta planta pela grande distancia, que se lhe dá para a sua ramificação, em quanto não chega ao seu maior crescimento, e por se não ver o Lavrador obrigado a alimpar a terra, que fica neste espaço, das hervas, que nascem sem maior proveito, lhe planta o milho, e feijão, que tudo cresce igualmente, sem que fação damno ao Algodoal. A estação, que começa a ser chuvosa, não céssa de regar a lavoura regularmente todas as tardes, e muitas vezes á noite, vindo de manhã o Sol até o meio dia animar a lavoura; algumas vezes acontece virem as chuvas de oito em oito dias, por intervallos, no mez de Outubro, até chegar a meiados de Novembro, tempo, em que ellas são constantes. A fertilidade do terreno faz crescer com as plantas, outras muitas hervas, que o Lavrador he obrigado a arrancallas, ou sachallas para desaffogar a sua lavoura, que então cresce prodigiosamente; e quando se dá a primeira limpa, se arrancão os pés de Algodão superfluos na cova[8], deixando só dous, que se capão, quando a planta já tem altura sufficiente para brotar novos galhos ao redor do tronco, e fazer com esta operação maior lucro na colheita. No mez de Fevereiro costumão os Lavradores dar a segunda monda á sua lavoura, confórme as suas differentes occupações, e abundancia da herva, que torna a renascer depois da primeira limpa. No mez de Maio se faz a colheita do milho, e do feijão, deixando o terreno desembaraçado, e limpo, para no mez de Julho se dar princípio á colheita do Algodão, que continúa até o mez de Outubro, e Novembro, tempo, em que se pódão os Algodoeiros, para no segundo anno darem huma fertilissima colheita. A necessidade, que não céssa de ameaçar o Lavrador, o disperta a continuar o mesmo trabalho, para ter certa a sustentação de milho, e feijão, que já não póde ser, senão em terreno novo, que serve para augmentar a dita plantação com a mesma regularidade. Deste modo veria o Lavrador crescer, com o seu trabalho, as suas riquezas, não só pela felicidade da lavoura, seu rendimento, e duração da planta, como pela diminuta despeza no seu fabrico, se hum obstaculo lhe não embaraçasse a execução de hum plano tão util ao Commercio, e ao Estado. O Abbade Tessier no seu discurso preliminar sobre a Agricultura se expressa da maneira seguinte.==O mais poderoso meio de dar á Agricultura toda a actividade, de que póde ser susceptivel, he praticar caminhos de communicação em os Paizes, onde os não ha, e canaes navegaveis para transporte das mercadorias, &c. &c. _Encyclopedia Dictionario de Agric_, pag. 20. Não he a falta do caminho, que faz o embaraço da exportação, mas sim a falta de segurança deste mesmo caminho para socego, e frequencia dos viandantes, que, na travessa da mata, se vêm accommettidos do Barbaro Gentio _Cotachós_, privando-os da facilidade de transportarem as suas cargas pelo rio abaixo até o Ribeirão da Arêa, que fica a 13, até 14 legoas da Villa de Camamú, de donde se podem muito bem conduzir em cavalgaduras, para deste porto serem enviadas para a Capital, se houvesse naquelle lugar hum corpo de homens, que os fizessem conter nos seus limites, repellindo a força das invasões. Este caminho, em outro tempo aberto por Ordem do Excellentissimo Manoel da Cunha Menezes, quando governou a Bahia, terminando na estrada, que vai para os Maracazes, dirigida dos Sertões da Conquista, que ficão abaixo das Contagens de Rio Pardo, e Tocajós, se fechou, não só pela infestação do Gentio, mas pelo longe, máo passo, e falta de pastagens para os animaes, o que conhecendo eu bem, obrigado da necessidade dos animaes precisos para o costeamento dos meus Engenhos, pela miseria, e lastimosa necessidade do povo, me resolvi a fazer outro, seguindo differente rumo, onde gastei tres annos sem adjutorio do povo, nem da Camara, nem doutrem, perdendo em todo este tempo o lucro das minhas lavouras, e o fiz muito mais perto, e por hum terreno, que o acaso subministrou com algumas pastagens. Não he preciso para segurança deste caminho mais, que huma Povoação de Judios mansos chamados _Mongoiós_ no Ribeirão da Arêa. Não são os particulares, que tem este poder; mas sim o Governo, onde existe a Régia Authoridade. Eu não conheço homens mais aptos para este fim, do que a domestica Nação dos Indios _Mongoiós_, não só pelo seu grande valor, e intrepidez, como por serem huns homens acostumados á vida silvestre, e que a maior parte do tempo vivem da cassa, e da pesca, ainda que sejão Agricultores, e amantes da lavoura, não soffrendo maior detrimento, em quanto crescem no primeiro anno as suas lavouras, e desejão isto mesmo, confórme o que me disserão, pelas razões, que vou dar. Primeira, porque ha muito tempo não recebem as ferramentas, que costumavão receber por Ordem do Governo. Segunda, porque na grande distancia, em que morão, não tem, quem represente as suas necessidades ao Governo para as remediar. Terceira, porque se vêm opprimidos, sem poderem fazer as suas lavouras, e as que fazem, serem destruidas pelos animaes domesticos dos habitantes. Quarta, pela oppressão, que soffrem, de quem os governa, sem que o longe lhes permitta a facilidade, de se poderem queixar. Quinta, porque o terreno da beira do Rio he mais abundante de cassa, e peixe, e muito fertil; e sendo ahi animados de huma prudente administração, de que são muito susceptiveis, podem fazer a sua felicidade, de que resultão ao Estado as seguintes vantagens. Primeira, confórme o que me disserão, quando aqui chegárão na expedição da Bandeira contra os _Cotachós_, logo, que elles viessem para a beira do Rio, as outras Aldêas da sua mesma Nação, que ainda não sahírão das matas, se virião encorporar com elles, assim que lhes constasse da sua felicidade, debaixo da doce administração, e protecção do Estado. Segunda, estes homens conciliados, debaixo da direcção de hum Director desinteressado, serão outros tantos valerosos soldados, que com facilidade dalli melhor podem ser chamados, confórme as necessidades da beiramar, do que do fundo dos Sertões, onde presentemente habitão. Terceira, ficando a estrada livre da infestação dos _Cotachós_, o Commercio será livre aos viandantes, para com segurança trazerem as suas mercadorias, de cuja facilidade resulta a animação de huma lavoura tão importante, servindo estes homens, para exportarem nas canoas as grandes sommas de Algodão, que a emulação fará cultivar em todo o vasto terreno do baixo Sertão da _Reraca_[9], _Conquista_[10], e _Borda da mata_, e das margens de muitos rios navegaveis, que vem ter ao dito Rio das Contas. Quarta, o poder-se frequentar a dita Estrada da beira do Rio para a Villa do Camamú, por ficarem os moradores livres do receio das invasões dos _Cotachós_, que se entranharão pelas matas do Sul, logo que souberem da residencia destes homens na beira do rio, tão valerosos, e destros não só no manejo das suas armas, como das nossas. Quinta, o grande Commercio de _Ipecúcuanha_, que elles podem fazer, tirando-a nas margens do mesmo Rio das Contas, Ribeirão da _Arêa_, e matas do _Gragongi_, onde ha com abundancia. He experimentado na Agricultura, que a falta de animaes para o seu fabrico faz a sua decadencia. Esta verdade, que tem sido provada em muitos Paizes, confórme os Abbades _Rosier_, e _Tessier_, grandes escritores, e Mestres desta Sciencia, não deixa de ser lastimosamente comprovada neste Paiz, que sendo, em outro tempo, abundante de farinhas, unico commercio, que fazia para a Capital, hoje se vê reduzido á ultima miseria de sorte, que a exportação, que presentemente se faz para a Bahia, deste genero tão necessario, he, para a que se fazia em outro tempo, como de 1 para 1000. A razão desta decadencia he bem conhecida. Em quanto havião matas virgens á borda do mar, ou de muitos rios navegaveis, que entrão algumas legoas terra dentro, a lavoura se fazia com facilidade, e com a mesma se conduzião as farinhas ás costas dos escravos, e de poucos animaes para os pórtos de embarque. Hoje porém que já as terras da borda d'agua estão reduzidas a Capoeiras, huma, e muitas vezes plantadas, e minadas de formigueiros, destruidores da mandioca, he o producto da lavoura nas capoeiras, para o producto, que tiravão os Lavradores nas matas virgens, como de 5 até 10, para 40, 50, 60, e para 100, o que se próva pela tradição dos antigos Lavradores, e pelo preço das farinhas desse tempo, que nunca excederão a 480, sendo o preço usual de 240, a 320 o sacco[11], e o seu preço actual 1280, a 1600, sem esperanças de melhoramento, porque sempre o preço he na razão inversa da abundancia do genero. Os póvos humildes por sua natureza, e pela creação mui grosseira, se não animão a procurar melhoramento, não só pela pequenhez do seu animo, como por lhes faltarem os animaes necessarios, para conduzirem de mais longe as suas farinhas. A falta de açougue he outro obstaculo. Os Póvos, não tendo huma certa sustentação, não se animão a apartarem-se dos mangues, para lhes não faltar o sustento do Carangueijo[12]. Nas tres legoas, da borda dos rios para dentro, estão as boas terras de lavoura de mandiocas, que pela sua grande producção, se os Lavradores se animassem a entrar, tendo abundancia de animaes para transporte das suas farinhas, como se vê na ribeira de Nazaré, farião renascer a abundancia deste genero tão precioso neste paiz. Outros muitos estabelecimentos de Engenhos de assucar se poderião fazer, de que resultarião ao Estado grandes vantagens, se houvesse no Paiz abundancia de animaes, o que não succede pela falta de abertura ou de estrada. A Agricultura entretem de dous modos o commercio, tanto interior, como exterior, fazendo propagar os generos de exportação para as manufacturas, e os que se consomem na terra, e servem de sustentação. Faz a base fundamental da felicidade dos Póvos, e da riqueza do Estado. O Arraial do Caitité, que fica 30 legoas inda acima das Cabeceiras do Rio das Contas, que dista 130 legoas, ou pouco menos do primeiro porto de embarque, que he na Villa da Cachoeira, era á 25 annos pobre, deserto, e só manejava o diminuto commercio de gados, mas de muito pobres fazendas se vê hoje o mais rico daquelles Sertões, depois que derão princípio á cultura do Algodão, havendo nelle grandes Lavradores, pela facilidade, e segurança de fazerem descer por huma estrada frequentada os seus generos. Os Póvos de Minas Novas, a exemplo destes, não obstante o serem duas vezes mais remotos do porto de embarque, fizerão o mesmo, a pezar do grande dispendio na exportação: ora se estes Póvos, a pezar da grande distancia, achão utilidade nesta lavoura tão recommendada pela nossa Academia das Sciencias de Lisboa sobre o Algodão da Persia, em que logo fallarei, que vantagens não terão os que cultivarem á borda da mata do nosso Sertão, que está tão perto, ainda havendo a facilidade de se conduzirem as cargas pelo rio abaixo em canoas, até o Ribeirão da _Arêa_, sendo o terreno o mais proprio, que se conhece para a dita lavoura. As sementes do Algodão da Persia, que me forão entregues com a norma impressa da sua cultura, eu fiz plantar em differentes tempos, e não nascêrão, por já terem o germe destruido, e assento que se deverião mandar vir frescas, mettidas em vasos de vidro tapados, se possivel for, hermeticamente, e se poderem vir logo em direitura muito melhor será para não padecerem as sementes alteração na parte oleosa, que contém a polpa, que cobre o germe, ou plumula. O Algodão da India, que cá temos, tem nas sementes alguma semelhança com o Algodão da Persia, por serem alguma cousa cobertas de hum pêlo branco, porém não tanto, como o da Persia; a sua flôr he de hum vermelho côr de fogo, caracter distincto do Algodão de Macassar, o qual ainda conservamos em muito pequena quantidade, por ser mais difficil no colher, porém bastante para se poder augmentar a plantação; reliquias que nos ficárão dos generos da India, que em outro tempo aqui forão cultivados, como a Canella, a Pimenta, o Gengibre, e o mesmo Algodão, de que remetto o exemplo na pequena caixa das amostras, onde vão seis qualidades de Algodão; a saber. Algodão de caroço inteiro, comprido, e preto, que he de muita vantagem na sua cultura, porque he mais fertil em lãa, inda que de qualidade mais áspera, como se póde ver na amostra, que remetto, e só póde servir para as obras mais grossas. Chamão a este Algodão vulgarmente do Maranhão; cuja arvore he de menos duração. Algodão de caroço inteiro, e preto, porém não tão comprido, como o do Maranhão, a que chamão Algodão vulgar; a sua lãa em tudo se assemelha á do Maranhão, porém tem differença por ser o seu fio mais fraco, que o do Maranhão, porém a sua arvore he de mais duração. Algodão de caroço unido, coberto de hum pêlo pardo, a que chamão Algodão de caroço pardo, fertil em lãa mais macia, e doce, que a do Maranhão, e produz hum fio fortissimo: a sua arvore he de bastante duração. Algodão de caroço unido, coberto de hum pêllo verde, a que chamão Algodão de caroço verde, a sua lãa he abundante, doce, branda, e forte no fiar: a sua arvore he de huma grande duração. Estas duas qualidades podem servir para obras mais delicadas como cassas vulgares. Algodão de caroço inteiro, e preto, de lãa parda, ou côr de ganga; a sua lãa he muito macia, e forte: a sua arvore he duravel, póde servir para se fazerem as gangas, e outras obras de fustões, em que entrem listras côr de gangas. Algodão da India de caroço dividido, coberto de hum pêllo branco bem semelhante aos caroços, ou sementes do Algodão da Persia, de que já fallei: a sua lãa he de hum branco fino muito doce, que produz hum fio forte, capaz para as obras mais delicadas, como cassas de sopro, &c. Algodão da India de caroço preto sem ser coberto, e dividido; a sua lãa he igual á do precedente com a differença de que o caroço não tem pêllo; a maçãa he maior, e os casulos, ou capuchos mais abundantes de lãa: tambem tem a differença nas arvores, porque a do caroço preto he mais crescida, quando a do caroço coberto he muito rasteira, ainda que a sua duração seja igual, pois, sendo cultivadas em terreno fertil, e estrumado, aturão muitos annos. As arvores, que produzem o Algodão de caroço pardo, verde, e preto, vulgar, e de côr de ganga, são persistentes, e aturão muitos annos; a do Maranhão não chega a aturar dous annos neste Paiz, ainda que não ha exemplo da sua cultura no Sertão, onde o terreno he mais proprio para a dita lavoura, e atura hum pé de Algodão entre o mato sem nenhum beneficio 25 annos, e muito mais, porque ainda existem alguns, que já tem esta idade. Temos outras duas qualidades de Algodão silvestre, que se encontra em abundancia nas Catingas á margem do Rio das Contas, tendo ambas as mesmas propriedades do Algodão da India, tanto nas sementes, como nas arvores só com a differença, de que huma destas especies tem a lãa parda, e áspera por falta de cultura. O Algodão domestico, cultivado nas Catingas, dá hum producto consideravel, o qual se póde ver na taboa analitica do rendimento do Algodão. A execução destas vistas importantes, não póde pertencer a outrem, senão ao Rei, porque ellas pedem despezas, que excedem á fortuna dos particulares, e necessitão da animação das Ordens, e do poder do Soberano, para transportar casaes de Ilheos, do mesmo modo, que se fez para a Ilha de Santa Catharina, para dar maior avanço á cultura dos Algodões, e cultivar-se hum terreno, que póde sustentar muitos milhões de Vassallos de Sua Magestade, e descobrirem-se immensos thesouros, que se achão sepultados debaixo das matas, que, por falta de cultura, se não conhecem; e em quanto o Estado não dá sobre este importante objecto as providencias precisas, basta que o Governo determine a residencia dos Indios _Mongoiós_ na beira do Rio, para que ficando a estrada livre das invasões dos _Catachós_, se dê princípio a huma tão importante lavoura, como tambem para que possa por ella descer todo o Salitre, que se fabricar não só nos Montes Altos, como em todo o terreno nitroso do Ribeirão da Giboia, que fica a 40 legoas de beiramar, de muito facil condução, fazendo-se primeiro conduzir em carros até o sitio chamado da Passagem, e dahi em canoas até o Ribeirão da _Arêa_, como tenho já dito a respeito da exportação do Algodão, e com muita facilidade conduzir-se para o primeiro porto de embarque: no caso que seja o Salitre, o que torna as aguas da dita Ribeira de hum gosto salgado frio, sendo as terras das suas margens bastante salgadas; o que unicamente observei, sem que podésse analysallas pela precipitação, com que por ahi passei, e não ter vasos suficientes para o poder fazer: posto que tinha a noticia, de que João Gonçalves da Costa fizera seccar huma porção deste Sal, que dizia ser Salitre, e o tinha trazido a esta Cidade da Bahia no tempo do Illustrissimo Governador Manoel da Cunha Menezes, que, lançado no fogo, fazia a detonação, deixando pela sua impureza bastante terra; porque o seu author não possuia os conhecimentos precisos, para fazer a perfeita deputação, o que só póde decidir o exame filosofico, para então se poder verificar, sem a menor dúvida, inda que me affirmão pessoas de toda a fé, que a tal massa detonava bastante exposta ao fogo; e não só póde servir o beneficio da dita estrada para a facilidade da exportação deste genero, mas tambem de todos os ramos, de que se segue tão grandes vantagens ao Commercio, e por consequencia ao Estado. _O fortunatos nimium, sua si bona norint, Agricolas!..._ Virgil. Georg. Liv. 2. DESCRIPÇÃO DAS DIFFERENTES ESPECIES DE ALGODÃO QUE TEMOS NO BRAZIL. _Algodão do Maranhão de Caroço inteiro, e comprido_.[13] A sua maçã, ou pericarpio comprida bastante grossa, que contém nas suas valvulas, ou cellulas tres capulhos, ou capuchos na frase do Paiz, da huma abundante lãa, que cobre nove até dez sementes unidas em hum só corpo, a que chamão caroço inteiro, o qual tem de comprimento pollegada e meia. A sua arvore em beiramar da Villa do Camamú só atura dous annos, e não ramifica como as outras, porque da altura de tres palmos da terra, onde o tronco he grosso bastante, brota muitas vergonteas, sem que faça maior ramificação. A sua lãa, não deixa de ser a mais áspera que cá temos, e póde servir para muitos usos. _Algodão de caroço pardo, e inteiro_.[14] A sua maçãa mais grossa, que a precedente, porém não tão comprida, contém de tres até quatro valvulas, que encerrão outros tantos capulhos, ou capuchos de huma abundante lãa, muito clara, e doce, que cobre nove sementes unidas em hum caroço, coberto de hum pêllo pardo, o seu comprimento he pouco mais de pollegada; o fio, que produz este Algodão, he forte, e por isso se póde fiar bem delicado. A sua arvore he grossa bastante, e de huma grande ramificação, atura muitos annos, e por isso de grande vantagem. _Algodão de caroço verde, e inteiro_.[15] A sua maçã em tudo semelhante á precedente, contém quatro capulhos; de huma lãa clarissima, e muito fina, que cobre nove sementes unidas cobertas de hum pêllo verde, caracter distinctivo desta especie; este Algodão produz hum fio fortissimo, e por isso muito proprio para as obras mais delicadas. A sua arvore he em tudo semelhante á precedente, e quasi estas duas especies são analogas, e só as differença a côr do pêllo, que cobre os caroços. _Algodão de caroço inteiro de lãa parda côr de ganga_.[16] A sua maçãa he ordinaria, e produz tres ou quatro capulhos, ou capuchos de huma lãa parda, que cobre hum caroço inteiro, e unido, que he composto de sete e nove sementes. A sua arvore he persistente, e de muita duração. _Algodão vulgar_.[17] Tem as mesmas propriedades que o Algodão de Maranhão, unicamente com a differença do seu caroço ser menor, composto de sete ou nove sementes, e raras vezes de dez. A sua arvore he de grande duração. _Algodão da India de caroço dividido, e cuberto de hum pêllo branco_.[18] A sua maçãa he pequena com tres quatro valvulas, contém outros tantos capulhos de huma lãa finissima, muito alva, que cobre sete sementes divididas, que faz o caracter do caroço dividido. A sua arvore he rasteira, e muito duravel. Esta semente nos veio da India, em companhia do Cravo, da Canella, e do Gengibre, e se tem conservado até agora. Tambem temos outra especie de Algodão da India de Caroço dividido, e preto de lãa muito macia, e alva. A sua arvore he mais alta, que a precedente. Temos ainda duas especies de Algodão naturaes do Paiz, que se achão silvestres nas margens do Rio das Contas, e bem semelhantes ao Algodão da India, tanto nas suas sementes, como na sua arvore, tendo huma das duas especies a lãa áspera, e parda. Eu as fiz plantar em beiramar, mas no tempo da fructificação, as chuvas deitárão abaixo as novidades, sem ficar huma só maçãa. A sua arvore he de grande duração. CALCULO ANALYTICO. Hum escravo trabalhando em Algodão dá de rendimento no Sertão 250$000 Prepára terra para 500 pés Que dão de lãa 62 e 16 a razão de 4 lib. por pé Tirada de 1364 maçãas, que produz cada pé de colheita ordinaria. Além disto planta o milho, e feijão para o seu sustento, e para crear porcos, gallinhas, &c. O que melhor se conhece na Taboa --Synthetica. FIM. CALCULO SYNTHETICO DO RENDIMENTO DO ALGODÃO DO CAROÇO PARDO, VERDE, E DO MARANHÃO. ============================================================================== Producção do Algodão em |Maçã| Capul.| Gr. |Oit.|Lib.|Arrob.|Pés de| Preço | | | | | | |Algod.| -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- Huma maçãa contém | |3 até 4| | | | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- Hum capulho dá de Lãa | | |9 p. m.| | | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- Oito ditos dão | | | | 1 | | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- 1024 Capulhos dão | | | | | 1 | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- 1024 Capulhos reduzidos | | | | | | | | | a Maçãas dão | 341| | | | | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- Cada pé de colheita | | | | | | | | | ordinaria dá |1364| | | | | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- 1364 Maçãas dão de Lã | | | | | 4 | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- Cada trabalhador prepara | | | | | | | | | terra para | | | | | | | 500 | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- 500 pés dão de Algodão | | | | | |62-1/2| | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- 62 arrob. e 1/2 | | | | | | | | | vendido pelo preço | | | | | | | | | corrente da Praça | | | | | | | | | de 6:400 | | | | | | | |400|000 | | | | | | | | | 625 | | | | | | | | | 6400 | | | | | | | | | ------- | | | | | | | | | 250000 | | | | | | | | | 3750 | | | | | | | | | -------- | | | | | | | | | 400000(0 | | | | | | | | | -------------------------+----+-------+-------+----+----+------+------+---+--- 62 arrob. e 1/2 no | | | | | | | | | Sertão vendida | | | | | | | | | a 4:000 rende | | | | | | | | | | | | | | | | | | 625 | | | | | | | | | 4000 | | | | | | | | | -------- | | | | | | | | | 250000(0 | | | | | | | |250|000 ============================================================================== _Annuncio de huma máquina singéla de carmear o Algodão, vista na China_. Por * * * Com huma Estampa. 1. Hum banco donde se assenta o carmeador. 2. Huma verga flexivel. 3. Hum cordão, donde suspende o arco. 4. Gancho de ferro que engata na argola do arco. 5. Hum arco de páo. 6. Huma corda de rabecão bastante grossa. 7. Hum maço pequeno com que bate na corda, e com o dente que tem, pega na dita corda, e puxando para si, faz hum estremecimento grande, o que faz sacudir, carmeando, dividindo todo o çujo. 8. Argola de ferro, donde engata o gancho N.^o 4. [Figura] Notas: [1] _No maior calor, que he do meiodia para tarde, e muitas vezes no outro só chega a 60 na mesma estação_. [2] _Porque tanto chove de verão como de inverno, e muitas vezes o verão he mais chuvoso, e só a differença das horas nos dias he que os faz distinguir_. [3] _Coá tinga_ quer dizer mato branco, como são os de terras fracas. [4] _Catingas baixas, são mais baixas duas vezes, que as Catingas altas_. [5] _Capoeiras_, palavra Europea substituida por corrupção a Brasiliana _Có cuéra_, rossa antiga. [6] _Bandeiristas, são os homens, que encorporados debaixo de hum Chefe atravessão as matas para seguirem os Judios, que assaltão as propriedades, e estradas, ou mesmo para os amansar, e cada hum delles separado se chama Bandeirista_. [7] _Ha huma observação, em que as sementes de Algodão de caroço inteiro se devem plantar com os caroços unidos sem se dividirem, para sahir o Algodão com os caroços unidos, que sendo divididas as sementes, assim produz o Algodão com as sementes divididas_. [8] _Porque se planta o caroço inteiro_. [9] _Nome proprio do lugar_. [10] _Nome proprio, com que ficou pela conquista dos Indios Mongoiós, este lugar_. [11] _Sacco, medida de dous alqueires do Brazil, que corresponde a quatro alqueires de Portugal_. [12] _Animal, que vive na lama, que he coberta de arvores, a que chamão mangues, e são banhados da maré_. Genero cancer. Especie cancer hirsutus. [13] _Genero Gossypium de Lin_. [14] _Gossypium hirsutum_. [15] _Gossypium. Xilon Americanum praestantissimum semine virescente Tournef_. [16] _Gossypium. Barbadense de Lin. Algodão de Sião_. [17] _Gossypium_. [18] _Gossypium arboreum de Lin. Algodão de Macassar_. Lista de erros corrigidos Aqui encontram-se listados todos os erros encontrados e corrigidos: +----------+---------------------+----------------------+ | | Original | Correcção | +----------+---------------------+----------------------+ |#pág. 9| su? | sua | +----------+---------------------+----------------------+ As variações de nomes próprios foram mantidas de acordo com o original. End of the Project Gutenberg EBook of Memória sobre a plantação dos algodões, by José de Sá Bettencourt *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK MEMÓRIA SOBRE A PLANTAÇÃO *** ***** This file should be named 31093-8.txt or 31093-8.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: https://www.gutenberg.org/3/1/0/9/31093/ Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. 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Redistribution is subject to the trademark license, especially commercial redistribution. *** START: FULL LICENSE *** THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free distribution of electronic works, by using or distributing this work (or any other work associated in any way with the phrase "Project Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project Gutenberg-tm License (available with this file or online at https://gutenberg.org/license). Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm electronic works 1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to and accept all the terms of this license and intellectual property (trademark/copyright) agreement. 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The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at https://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. 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Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm concept of a library of electronic works that could be freely shared with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper edition. Most people start at our Web site which has the main PG search facility: https://www.gutenberg.org This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, including how to make donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.